Há momentos na vida em que a expressão “vai dar tudo certo” parece tão frágil quanto um galho seco enfrentando uma tempestade. Quem nunca duvidou disso? Quando as notícias ruins chegam, quando os planos desmoronam, quando orações parecem cair no vazio… É nesses momentos que muitos cristãos se perguntam: será mesmo que vai dar tudo certo?
Lysa TerKeurst não escolheu esse título por um otimismo vazio ou como uma frase de efeito motivacional. Quem leu suas obras anteriores sabe que ela escreve do lugar mais íntimo da dor e da vulnerabilidade. Sua vida não foi marcada por contos de fadas, mas por desafios reais – desde crises conjugais até a batalha contra uma grave doença. É sobre esse pano de fundo que a autora apresenta uma mensagem profundamente bíblica: Deus está presente mesmo nas nossas temporadas mais sombrias. E sim, no fim, tudo fará sentido.
O ponto central do livro não é prometer um “final feliz” nos moldes hollywoodianos ou insistir em um tipo de fé ingênua onde tudo simplesmente “funciona”. Pelo contrário, Lysa desafia seus leitores a enfrentarem as adversidades com olhos voltados para a eternidade e para o caráter transformador de Deus. Isso é o oposto do chamado “evangelho do atalho”, onde só os bens materiais importam e o sofrimento é visto como ausência da bênção divina.
Se você está procurando respostas fáceis ou fórmulas mágicas para evitar as dores da vida, este livro não é para você. Mas se está disposto a explorar o coração das Escrituras e aceitar que o sofrimento faz parte da caminhada cristã, encontrará em Vai Dar Tudo Certo um guia cheio de verdades reconfortantes – ainda que desafiadoras.
O sofrimento como parte da caminhada
Poucas coisas são mais desconfortáveis do que ouvir: “Deus permite o sofrimento com um propósito.” Em um mundo obcecado por resultados rápidos e felicidade instantânea, essa afirmação parece quase ofensiva. Não deveria Deus simplesmente nos livrar da dor? Por que permitir lutas que atravancam nosso caminho ou ferem nossos corações?
Lysa, com sua característica honestidade, não foge dessas perguntas difíceis. Ela entende que o sofrimento faz parte do caminho de quem vive a fé cristã, mas lembra algo importante: não enfrentamos isso sozinhos.
A Bíblia está repleta de exemplos de homens e mulheres enfrentando sofrimentos inimagináveis – de Jó a Davi, de Paulo a Jesus. Cada desafio enfrentado acabou contribuindo para moldar quem eles se tornaram:
- Jó descobriu a soberania de Deus em meio a suas perdas;
- Davi escreveu salmos cheios de louvor mesmo enquanto fugia pela sua vida;
- Paulo aprendeu o valor do contentamento enquanto estava preso;
- Jesus carregou sobre si as dores de toda a humanidade.
De acordo com Lysa, muitos cristãos caem na armadilha de achar que sofrer significa estar “fora da vontade de Deus”. Mas isso não condiz com as Escrituras. Romanos 8:28 nos lembra: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que O amam” – e isso inclui momentos difíceis. O problema é que, quando estamos no meio da tempestade, fica quase impossível enxergar esse bem maior.
Uma metáfora interessante usada pela autora é a do tear. Quando olhamos apenas o lado avesso do bordado, tudo parece caótico: linhas soltas, cores desconexas, nenhum padrão aparente. Mas ao virar o tecido… surge uma obra-prima. Assim também é a ação divina em nossas vidas – nem sempre conseguimos entender no momento, mas há um padrão sendo formado.
Transformando a dor em crescimento espiritual

Se Lysa simplesmente parasse em “o sofrimento tem um propósito”, seu livro correria o risco de soar insensível ou até teórico demais. Mas ela vai além ao explorar uma questão prática: como devemos reagir à dor? Afinal, não basta saber que a adversidade tem sentido; é preciso descobrir como usá-la para crescer.
Aqui entra um conceito-chave abordado pela autora: o sofrimento bem vivido gera frutos espirituais profundos. Não é automático; exige intencionalidade. Alguns dos maiores testemunhos de fé surgiram em períodos onde parecia impossível continuar acreditando.
Ela dá exemplos reais – experiências próprias e histórias de outras pessoas – para ilustrar como as dores podem nos refinar espiritualmente. Uma das práticas sugeridas no livro é se render ao processo de depender totalmente de Deus. Parece óbvio, mas quantas vezes tentamos resolver tudo sozinhos antes de clamar por ajuda divina?
Outro ponto destacado é o valor do agradecimento, mesmo em meio às lutas. A autora lembra que Davi constantemente louvava a Deus enquanto batalhava contra seus próprios gigantes (literalmente e metaforicamente). Essa postura não nega a realidade da dor; ela simplesmente muda nosso foco.
Lysa não deixa dúvida: nossa capacidade de crescer espiritualmente está diretamente relacionada à nossa disposição em permitir que Deus trabalhe em nós enquanto enfrentamos desafios. E sim, isso dói – mas vale a pena.
Confiando em Deus: Mesmo quando tudo à nossa volta parece dizer “não”
É quase instintivo procurar respostas rápidas ou qualquer coisa que nos dê um senso de controle. Lysa TerKeurst traz uma perspectiva revigorante para esse dilema, convidando-nos a enxergar os momentos de incerteza como chances de fortalecer nosso vínculo com Deus em um nível mais profundo. Não se trata apenas de dizer “eu confio”, mas de viver essa confiança como uma escolha diária.
Afinal, confiança não significa ausência de dúvidas. Pelo contrário – é no meio dos nossos questionamentos mais profundos que aprendemos o que realmente significa depender d’Ele. No livro, Lysa compartilha episódios difíceis da própria vida, quando parecia impossível escolher acreditar em Deus. Em vez de fugir ou fingir que estava tudo bem, ela escolheu “fazer perguntas difíceis dentro da presença de um Deus fiel”. Isso muda tudo.
Ela faz questão de deixar claro: o tipo de confiança que Deus deseja de nós não é um salto cego no escuro, mas um relacionamento onde aprendemos, pouco a pouco, a enxergar além das circunstâncias imediatas. Ela relembra histórias bíblicas como a da ressurreição de Lázaro – em que Jesus escolheu esperar quatro dias antes de agir –, para mostrar como os atrasos divinos não são descuidos, mas sempre parte de algo maior que ainda não conseguimos ver.
E quando nosso coração quer desistir? Lysa sugere práticas simples e transformadoras:
- Orações curtas e honestas, como “Senhor, ajuda-me a confiar hoje”;
- Abrigar-se na comunidade cristã;
- Buscar palavras nas Escrituras que possam nos ancorar quando o mundo desaba.
Não precisamos ter todas as respostas para acreditar n’Aquele que tem.
Vai dar tudo certo… Sob qual perspectiva?

Chegamos ao ponto central do livro: afinal, o que significa “dar certo”? Será que isso significa conseguir exatamente o que queremos ou evitar todo tipo de dor? Seria tão fácil se fosse assim! Mas Lysa desafia essa visão simplista e nos encoraja a redefinir “certo” segundo o prisma divino.
O “vai dar tudo certo” do título não é um slogan cor-de-rosa ou uma promessa vaga; é uma declaração baseada na soberania de Deus. Ela usa o exemplo de José (aquele do Antigo Testamento), vendido como escravo pelos próprios irmãos. Se alguém tinha motivos para acreditar que as coisas nunca dariam certo, era ele… Mas enquanto José estava preso numa cela ou esquecido pelos outros, Deus estava escrevendo um plano de redenção gigantesco por trás dos panos.
E então surge uma questão incômoda: será que conseguimos nos render à vontade divina mesmo quando ela parece estar longe do que esperávamos? Não é fácil abrir mão do controle e admitir que nem sempre sabemos o que é melhor para nós mesmos. Mas Lysa insiste: quando reconhecemos essa verdade, encontramos paz genuína.
E talvez seja isso que mais precisamos hoje – menos segurarmos firmes no volante e mais soltar as mãos com confiança.