Por onde começamos?
Quem nunca olhou para o céu, perdido em seus próprios pensamentos, e sussurrou algo como “Deus, você ainda está aí?”? Parece uma confissão que só surge em momentos de grande vulnerabilidade — aqueles dias em que o silêncio parece mais alto do que qualquer resposta que poderíamos imaginar. É exatamente nesse ponto que Sheila Walsh nos acolhe com seu livro Será que Deus Está Acordado?. Ela parte dessas perguntas inquietantes para nos guiar em uma jornada de reconexão e esperança.
Sheila não escreve de um pedestal. Sua abordagem é acessível porque vem de alguém que já enfrentou as cicatrizes da dúvida e do sofrimento. Ao longo de sua vida, ela lidou com batalhas pessoais profundas, desde crises de saúde mental até momentos de dor que desafiam qualquer um a continuar acreditando. Talvez seja exatamente isso que torna sua visão tão especial: suas palavras não são respostas prontas ou atalhos fáceis, mas carregam o peso de uma jornada sincera.
Este livro não é apenas sobre dúvidas teológicas ou questões metafísicas sobre a presença divina — embora essas questões estejam presentes. Ele também aborda aquela sensação visceral de solidão nos momentos em que mais precisamos de conforto. A pergunta no título é irresistivelmente humana: será que Deus vê o que está acontecendo? Será que Ele está sempre presente, movendo as peças invisíveis do nosso cotidiano?
Essas são questões universais para qualquer cristão (e até para quem não tem uma fé formalizada). Sheila, com delicadeza e franqueza, aponta para o coração do cristianismo protestante: Deus está presente mesmo quando não sentimos.
Quem é Sheila Walsh?
Sheila Walsh é amplamente conhecida como comunicadora cristã: conferencista internacional, autora best-seller e cantora. Mas isso é apenas a superfície. Sua trajetória pessoal e seus desafios com a saúde mental moldaram profundamente sua abordagem aos temas espirituais. Sheila já falou abertamente sobre sua luta contra depressão e ansiedade — um tema que raramente recebe tanta honestidade no meio cristão, especialmente vindo de figuras públicas. Essa franqueza é uma das razões pelas quais ela se conecta com tantas pessoas.
Mais do que uma “especialista”, Sheila se apresenta como alguém que também precisa aprender a confiar. Sua vida demonstra que ninguém está imune às dúvidas, mesmo ocupando um lugar de destaque na igreja ou tendo uma sólida formação religiosa. Pelo contrário, Sheila admite ter questionado onde Deus estava no meio de sua dor. Isso a torna uma voz relevante, pois ela não tenta disfarçar o desconforto das perguntas difíceis.
Se você já passou por momentos de desespero, talvez se veja nas histórias que Sheila compartilha. E é aí que reside a beleza deste livro: ele não tenta apagar o peso das nossas lutas diárias, mas nos lembra onde encontrar força para enfrentá-las.
Por que questionamos se Deus “está acordado”?

Esse é o ponto do livro que mais nos envolve. Afinal, quem nunca sentiu aquele nó na garganta durante um momento difícil — aquela sensação de abandono espiritual? Mesmo para cristãos comprometidos, o silêncio divino pode ser desconcertante.
Sheila aborda isso com sensibilidade. Ela não sugere que a dúvida seja sinal de uma fé insuficiente (algo que, infelizmente, é comum ouvir em certos círculos religiosos). Em vez disso, ela nos convida a encarar essas perguntas como parte natural da jornada espiritual. A questão “será que Deus está acordado?” reflete tanto nossa limitação humana quanto nossa necessidade desesperada por segurança divina.
Ela nos lembra que o problema muitas vezes não está em Deus, mas na forma como interpretamos Seu silêncio. Por exemplo, somos rápidos em pensar que “não ouvir nada” significa “nada está acontecendo”. A tradição cristã fala de um Deus que age mesmo quando tudo parece silencioso — uma ideia que Sheila ilustra ao combinar trechos da Bíblia com suas próprias vivências.
Um dos pontos centrais do livro é a confiança além da visão. Será que conseguimos acreditar em um Deus invisível mesmo quando nossos sentidos clamam por evidências?
Entre oração e confiança
De tempos em tempos, parece que a vida desmorona — sem aviso, sem lógica. Um diagnóstico médico inesperado. A perda de um emprego. A distância de alguém que amamos. Nessas horas, oramos porque é tudo o que conseguimos fazer. Mas e quando a oração parece desaparecer no vazio?
Sheila não foge dessa pergunta difícil; ela a enfrenta com coragem e compaixão. Antes de falar sobre como Deus age nos momentos difíceis, Sheila nos convida a refletir sobre o espaço entre oração e confiança. Oramos por alívio, respostas, direção — mas a confiança vem do entendimento de que Deus não é um gênio da lâmpada.
Ela compartilha algo profundo: orar não é sobre informar Deus das nossas necessidades (Ele já sabe). Orar é nos lembrarmos de quem Ele é. Nas palavras dela, “a oração não é convencer Deus a agir; é nos entregar à certeza de que Ele já está agindo”.
Essa perspectiva transforma completamente nossa relação com os momentos de crise. Não elimina a dor, mas nos convida a confiar em Deus mesmo no escuro, sem entender tudo.
Fé frágil: mais comum do que parece
Talvez uma das maiores contribuições do livro seja sua honestidade ao mostrar que dúvidas são normais em qualquer jornada espiritual. Existe algo libertador na forma como Sheila trata as fragilidades da fé. Ela não as apresenta como falhas de caráter ou lapsos vergonhosos, mas como oportunidades para uma relação mais autêntica com Deus.
Muitas vezes, carregamos a ideia equivocada de que um cristão “deveria” ser sempre firme, alegre e inabalável. Ninguém quer admitir os dias em que se sente distante ou até mesmo zangado com Deus. Mas Sheila insiste: Deus não se assusta com sua vulnerabilidade.
Ela usa exemplos bíblicos: Jó discutindo com Deus, Davi chorando em seus Salmos. A Escritura está cheia de pessoas perguntando “onde você está, Senhor?” ou “por que isso aconteceu comigo?”. Para Sheila, a fé verdadeira não é ausência de dúvida; é permanecer com Deus mesmo no meio dela.
Nem todas as perguntas precisam de resposta

O livro também nos convida a aceitar algo desconfortável: muitas coisas sobre Deus permanecerão um mistério. O título parece sugerir que encontraremos uma resposta definitiva — algo como “sim, Deus está sempre acordado, aqui está a prova”. Mas Sheila faz algo mais corajoso: ela aposta em uma confiança que coexiste com o mistério.
Há momentos na vida em que simplesmente não há explicação para o que passamos. Um sofrimento devastador pode parecer incompatível com a bondade divina. Confiar em Deus exige aceitar com humildade o quanto nosso entendimento é limitado.
Sheila reforça que não precisamos entender tudo para confiar plenamente. Isso pode ser desconfortável, mas é também libertador. Ao final de Será que Deus Está Acordado?, encontramos tanto consolo quanto um desafio: continuar acreditando, mesmo sem enxergar resultados imediatos.
Se há algo que este livro ensina bem, é que Deus nunca prometeu ausência de dor, mas garantiu Sua presença inabalável no meio dela.