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Crianças com dislexia: precisamos falar sobre isso. Como tratar isso sob uma ótica cristã?

Criança comendo olhando tela - problema

A dislexia é um daqueles assuntos que parecem passar despercebidos até bater à porta da nossa própria casa — ou da nossa igreja. Talvez você nunca tenha se deparado diretamente com isso, mas as estatísticas mostram que pelo menos 5% das crianças têm dislexia. Isso significa que provavelmente há uma criança no seu círculo familiar ou comunitário lidando com esse desafio todos os dias.

Mas o que exatamente é a dislexia? E, mais importante, como podemos, como cristãos, compreender, apoiar e ensinar essas crianças com amor genuíno?

Não estamos falando apenas de alguém que demora a aprender a ler ou confunde algumas palavras ao escrever (embora isso seja parte do quadro). A dislexia vai além: ela afeta a forma como o cérebro processa a linguagem escrita. Isso quer dizer que, mesmo com esforço, algumas crianças terão mais dificuldades para decifrar letras e sons do que outras. A questão não é inteligência; é o modo como o cérebro dessas crianças funciona.

Curiosamente, essas mesmas diferenças que dificultam certas tarefas às vezes vêm acompanhadas de talentos surpreendentes em outras áreas — raciocínio lógico, criatividade ou percepção espacial. Mas, muitas vezes, não damos espaço para perceber esses dons porque estamos presos às dificuldades. Falta conhecimento sobre o assunto. Nos ambientes escolares e até nas igrejas, criamos rótulos dolorosos: “preguiçoso”, “desinteressado”, “distraído”. Já pensou no peso disso para uma criança?

Não se trata apenas de lidar com as dificuldades dessas crianças ou buscar soluções práticas, embora isso tenha o seu valor. Trata-se de enxergá-las verdadeiramente — cada uma delas — como uma criação divina única e preciosa.

Entendendo a dislexia

Antes de qualquer coisa, precisamos entender do que estamos falando. Afinal, não dá para amar bem aquilo que não compreendemos.

A dislexia é um transtorno específico da aprendizagem que afeta principalmente habilidades relacionadas à língua escrita. Para alguns pais e educadores desavisados, pode parecer um atraso passageiro, mas, na verdade, é algo neurobiológico, permanente e que exige atenção específica. O cérebro da criança disléxica lida com informações linguísticas de um jeito único, o que pode dificultar tarefas como reconhecer palavras com agilidade ou identificar os sons que as compõem.

Um exemplo simples ajuda a visualizar isso: imagine tentar ouvir alguém falar claramente enquanto você está na beira de um rio turbulento. É mais difícil se concentrar nas palavras porque há muito barulho ao redor. Na mente de uma criança disléxica, algo parecido ocorre quando ela tenta juntar letras e sons enquanto lê.

E sabe qual o maior desafio? Não há cura mágica ou solução rápida para a dislexia — mas existe intervenção eficaz. E isso nos leva ao próximo ponto: o papel da comunidade cristã em acolher essas crianças.

Acolhendo os dons dados por Deus

Será que olhamos para todas as crianças como portadoras dos dons únicos dados por Deus? No Salmo 139:14 lemos: “Eu te louvo porque fizeste de modo especial e admirável.” Isso inclui cada criança! Mas nem sempre agimos assim quando vemos alguém “fora do padrão”, não é?

A escola — e até mesmo algumas igrejas — às vezes reforçam modelos homogêneos demais: espera-se que todas as crianças aprendam no mesmo ritmo e pelas mesmas estratégias. Contudo, Deus não criou ninguém igual ao outro! A diversidade cognitiva também faz parte do plano divino.

Algumas crianças aprendem cantando; outras precisam desenhar; outras encontram consolo nas histórias narradas verbalmente. E quanto às crianças disléxicas? Elas muitas vezes possuem habilidades fora do comum em outras áreas — criatividade artística, pensamento inovador ou capacidade manual — justamente porque seu cérebro opera de forma diferente.

Nosso chamado aqui não poderia ser mais claro: quem somos nós para desconsiderar algo tão belo na obra de Deus sob a justificativa de dificuldade acadêmica? Ao compreender isso profundamente (e também ao ensinar isso às nossas comunidades), começamos a desconstruir preconceitos perigosos sobre o tema. Assim, criamos um ambiente onde essas crianças podem florescer exatamente como são.

Romper preconceitos é essencial

É doloroso admitir, mas muitas crianças com dislexia sofrem não apenas pelos desafios do aprendizado, mas também pelos rótulos que recebem. E isso preocupa ainda mais quando esses julgamentos partem de quem deveria oferecer apoio: famílias, professores e até mesmo os próprios irmãos em Cristo.

Quantos de nós já ouvimos frases como “é falta de esforço”, “essa criança parece preguiçosa” ou, ainda pior, “isso é castigo por alguma coisa”? É assustador perceber quanto dano palavras assim podem causar ao coração de uma criança. Enquanto Deus nos vê com amor inesgotável, nós, muitas vezes, nos apoiamos em explicações simplistas para aquilo que não entendemos.

A dislexia não é falta de vontade e muito menos algo enviado por Deus para “punir” alguém. Pelo contrário: devemos enxergar essas crianças como dons preciosos em nossas vidas. Jesus mesmo nos deu o exemplo perfeito de como tratar aqueles que enfrentavam dificuldades ou exclusão. Ele não só andava com os marginalizados, como também enxergava neles qualidades e possibilidades que ninguém mais via.

Ser cristão é reconhecer que o amor vem antes do julgamento — sempre. Se o sofrimento humano já nos convoca à empatia, quanto mais o sofrimento de uma criança! Cabe a nós abraçar as diferenças dessas mentes únicas e fazer das nossas comunidades lugares onde elas se sintam aceitas e amadas.

A paciência como reflexo de Jesus

Paciência nunca foi apenas uma virtude; é também uma expressão prática do amor. Ao observar como Jesus interagia com as pessoas ao Seu redor — principalmente aquelas que a sociedade costumava evitar ou julgar — percebemos a calma com que Ele lidava, sem pressa para ensinar ou transformar. O Mestre sabia que cada coração tinha seu tempo.

Ensinar uma criança com dislexia muitas vezes exige exatamente isso: tempo. Talvez você precise repetir a mesma explicação várias vezes. Talvez seja necessário criar novas formas de aprendizado que façam mais sentido para ela — narrativas orais, atividades manuais ou até pequenas pausas que ajudem a aliviar a frustração do processo.

Nesses momentos, olhe para o exemplo de Jesus. Ele se abaixava para ouvir as crianças, olhava diretamente nos olhos delas e mostrava, através de gestos simples, que cada pessoa era digna de atenção total. Ensinava por meio do afeto.

Você pode fazer o mesmo. Ofereça paciência sem medida; mostre àquela criança que o tempo dela é valioso e que ela não está sozinha nessa jornada.

Escola, igreja e família: juntos no apoio

É preciso uma aldeia para educar uma criança, e no caso das crianças disléxicas, isso é ainda mais verdadeiro. Ninguém dá conta sozinho desse desafio. Quando a dislexia interfere de forma tão marcante na vida de uma criança e de sua família, é preciso que as instituições ao redor trabalhem juntas para ajudar.

A escola precisa ser mais do que apenas um local de aprendizado formal; ela deve ser um ambiente adaptável e inclusivo. Professores podem buscar capacitação específica sobre dislexia — existem técnicas modernas que tornam o aprendizado mais acessível — enquanto cultivam a empatia no trato diário.

Na igreja, líderes e membros têm oportunidades incríveis de serem apoio espiritual e emocional para essas famílias. Imagine o impacto de pequenos gestos como ajudar na lição da escola dominical ou criar grupos de pais onde dúvidas possam ser compartilhadas.

E claro, a família precisa ser um porto seguro acima de tudo. Mesmo quando a frustração aparece — porque ela vai aparecer —, os pais podem transformar esses momentos em aberturas para conversas sobre perseverança e fé.

Quando essas três esferas trabalham juntas, algo poderoso acontece: a criança deixa de se sentir sozinha na luta diária contra suas dificuldades e começa a enxergar possibilidades onde antes só havia barreiras.

O poder da oração

No fim de tudo, há algo profundo na oração que abraça tanto os pais quanto as crianças nessa jornada. É na presença de Deus que encontramos força para continuar tentando quando todos os métodos parecem falhar.

Pais podem orar por sabedoria; professores podem orar por criatividade em suas abordagens; crianças podem aprender (de forma simples) que falar com Deus é uma maneira incrível de expressar seus sentimentos quando se sentem frustradas ou incompreendidas.

Mais do que mudar circunstâncias específicas, a oração nos transforma por dentro. E quando nos conectamos a Deus de maneira intencional, Ele nos capacita a ver além das lutas diárias, nos mostrando vislumbres do propósito maior por trás delas.

Inspirando futuros brilhantes

É impossível abordar este tema sem lembrar das inúmeras histórias inspiradoras de pessoas com dislexia que superaram obstáculos imensos e trilharam caminhos brilhantes. De cientistas renomados a artistas inovadores e empreendedores visionários — muitos dos grandes nomes da história enfrentaram dificuldades semelhantes às dessas crianças.

Essas histórias não são exclusivas dos livros ou palestras motivacionais; elas também podem estar ao nosso redor, nas nossas igrejas e nas nossas famílias. Não subestime o impacto duradouro de levar esperança ao coração de uma criança disléxica. Incentive-a todos os dias. Mostre-lhe que Deus trabalha até mesmo nas suas fraquezas para realizar algo extraordinário.

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