Há algo único em abrir um livro destinado a crianças e descobrir que ele não subestima nem sua inteligência nem sua capacidade espiritual. O Livro de Histórias Bíblicas de Jesus, da autora Sally Lloyd-Jones, publicado no Brasil pela CPAD, é uma porta de entrada cativante para conhecer toda a narrativa bíblica, apresentada sob uma perspectiva totalmente voltada para Cristo. Aqui, os leitores — pequenos e grandes — são guiados por histórias familiares e, ao mesmo tempo, novas, todas apontando para algo maior: a pessoa de Jesus Cristo.
Mas talvez você esteja se perguntando: por que outro livro de histórias bíblicas? Não existem muitos deles por aí? Claro, existem inúmeros materiais infantis baseados na Bíblia. Muitos desses livros acabam tratando as histórias bíblicas como se fossem fábulas isoladas, quase como pequenos contos morais criados só para ensinar “bons valores” no cotidiano. Sally Lloyd-Jones propõe algo radicalmente diferente: todas as histórias da Bíblia fazem parte de uma única história maior.
Em vez de apresentar Davi como apenas um herói corajoso ou Jonas como alguém teimoso, ela conecta esses personagens diretamente ao propósito último da Escritura: revelar Cristo como Salvador. Essa abordagem transforma o modo como crianças — e até mesmo adultos — compreendem a narrativa bíblica. Não se trata mais apenas de aprender lições morais ou decorar versículos; trata-se de enxergar desde o Éden até o Apocalipse como Deus vem trabalhando para reconciliar seu povo consigo mesmo por meio de Jesus. E sabe o que é fascinante? Tudo isso está apresentado num estilo brilhantemente acessível.
O que é o Livro de Histórias Bíblicas de Jesus?
Sally Lloyd-Jones descreve sua obra com modéstia surpreendente para algo tão ambicioso. Ela o chama de “uma Bíblia infantil”, mas isso talvez não faça justiça à profundidade do projeto. Este não é exatamente um resumo repleto das narrativas bíblicas mais famosas; também não é apenas um livro ilustrado cativante (embora ele cumpra muito bem esse papel). Ele vai além: transforma cada pequena parte da Palavra em um reflexo do plano redentor maior.
O livro foi escrito pensando em crianças entre 4 e 8 anos, mas facilmente captura leitores mais velhos também. Quem já leu sabe que as palavras escolhidas por Lloyd-Jones parecem carregadas de uma magia difícil de ignorar. A escritora não apenas narra as histórias — ela as vive com os leitores. Cada página parece impulsioná-lo para frente; cada personagem parece ecoar algo muito maior do que seus próprios atos na história.
Lloyd-Jones escreveu este livro porque percebeu um problema sério: muitos veem a Bíblia como uma lista interminável de mandamentos ou um conjunto fragmentado de histórias confusas. Mas ela queria mostrar outra coisa — queria apresentar às crianças (e indiretamente aos adultos) a grande história do amor redentor de Deus.
Como o Antigo Testamento aponta para Jesus?
Uma das maiores contribuições deste livro está na forma como ele trabalha com as histórias do Antigo Testamento. Sejamos honestos: muitos cristãos têm dificuldade para conectar figuras como Noé ou Moisés à mensagem central do evangelho. Parece mais natural ver Jesus lá no Novo Testamento do que imaginar sua sombra nas páginas anteriores. Mas Sally Lloyd-Jones desafia essa percepção com maestria.
De maneira quase imperceptível, ela convida o leitor a perceber Jesus em tudo:
- A Arca de Noé: Um símbolo daquele que salva seus filhos do julgamento inevitável pela graça irresistível.
- A libertação do Egito: Uma antecipação clara da redenção final que Cristo traria ao seu povo escravizado pelo pecado.
- Abraão e Isaque: O sacrifício quase realizado no monte Moriá aponta diretamente para o sacrifício perfeito de Cristo, o Cordeiro providenciado por Deus.
Esses toques teológicos são apresentados com delicadeza surpreendente. Não há linguagem pesada demais para crianças entenderem nem abstrações forçadas. Tudo flui naturalmente porque essa é a própria essência das Escrituras: elas apontam continuamente para Jesus.
Simplicidade e profundidade: o segredo do livro
Um dos traços mais marcantes da escrita de Sally Lloyd-Jones é sua capacidade de falar profundamente sem ser complicada. Isso talvez seja um dos maiores motivos pelos quais seu livro ressoa tão bem com leitores de todas as idades. A autora parece compreender algo essencial: as verdades mais profundas não precisam ser complicadas para causar grandes transformações.
Veja como ela descreve a criação do mundo no livro. Em vez de usar palavras rebuscadas ou focar apenas nos detalhes da narrativa bíblica, ela opta por um tom quase poético:
“Deus disse palavras especiais para criar tudo… E tudo aconteceu! Ele disse: ‘Você está lindo!’, e tudo começou a cantar.”
Essa abordagem não é apenas uma descrição do que Deus fez; é um convite para imaginar, sentir alegria e até participar da maravilha da criação. E isso se reflete em todas as histórias, desde Noé até Jesus na cruz. A autora escreve com uma ternura quase palpável. Ela entende a inteligência das crianças, mas faz algo ainda mais profundo: enxerga e valoriza suas almas.
Esse equilíbrio entre simplicidade na linguagem e profundidade na mensagem é uma das chaves para o sucesso do livro. É comum ouvir pais comentarem que foram profundamente impactados enquanto liam as histórias em voz alta para os filhos. Sally Lloyd-Jones conseguiu traduzir algo tão grandioso sem perder sua essência divina.
Por que as crianças amam tanto?
Imagine uma criança sentada no colo dos pais enquanto ouve uma história sobre Davi enfrentando Golias. Naquele instante, ela suspira com admiração pela coragem do jovem pastor, mas logo percebe — através das palavras simples do livro — que essa história não é só sobre vencer gigantes; é sobre confiar em um Deus maior do que qualquer medo ou obstáculo.
Essa é a experiência comum com este livro. As crianças não só entendem as histórias; elas se conectam a elas em um nível profundo. A maneira como a autora escolheu colocar Jesus no centro da narrativa transforma a leitura em algo que toca profundamente o leitor e deixa marcas duradouras.
Um ponto que merece atenção é como a narrativa se une às cores e traços únicos das ilustrações de Jago. As imagens falam tanto quanto as palavras — às vezes mais! Quase dá para ver os pequenos leitores apontando para os desenhos enquanto fazem perguntas ou criam suas próprias interpretações.
Nem tudo é perfeito: críticas possíveis
Como qualquer material adaptado para crianças, o Livro de Histórias Bíblicas de Jesus não está isento de críticas. Uma das observações feitas por alguns leitores é que, ao priorizar seu viés cristocêntrico e simplificar aspectos históricos ou culturais das narrativas bíblicas, o livro acaba deixando algumas lacunas.
Por exemplo, personagens como Débora ou passagens difíceis como as profecias apocalípticas não recebem muito destaque (ou são omitidas). Para leitores mais experientes ou adultos acostumados ao estudo exegético rigoroso das Escrituras, isso pode ser interpretado como uma abordagem seletiva demais.
No entanto, é importante lembrar que o propósito do livro nunca foi substituir as Escrituras ou fornecer uma teologia completa. Ele se concentra em algo bem específico: apresentar Jesus às crianças por meio de histórias fáceis de entender.
Vale a pena?
O Livro de Histórias Bíblicas de Jesus não é um substituto da Bíblia nem pretende ser. Ele é um ponto de partida — uma ferramenta apaixonante e acessível para introduzir crianças (e até adultos) à história central das Escrituras: o amor redentor de Deus revelado em Cristo.
Ler este livro é entrar num mundo onde cada página desperta curiosidade, admiração e esperança. Ao longo dessa jornada literária e espiritual, torna-se evidente por que tantas famílias veem essa obra como uma grande aliada na formação dos valores dos pequenos. Porque não se trata apenas de ensinar “histórias legais”. Trata-se de algo maior: ajudar as novas gerações a enxergar Jesus como Ele realmente é — a peça central da maior história já contada.